A vegetação florestal e a vegetação campestre no Brasil sofreram as maiores perdas de áreas entre 2000 e 2020, enquanto pastagem com manejo, área agrícola e silvicultura apresentaram os maiores acréscimos.
A pesquisa Contas Econômicas Ambientais da Terra: Contabilidade Física (Brasil 2000/2020), divulgada hoje (07/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 64,7% das mudanças ocorridas foram sobre a vegetação nativa, regressão decorrente, especialmente, do avanço da pastagem com manejo e da lavoura.
“Evidencia-se que, desde 2000, as classes com maior participação no total de conversões foram as de vegetação florestal (40,4%), vegetação campestre (24,3%) e mosaico de ocupações em área florestal (19,2%). Ao considerar apenas as classes de vegetação nativa, nota-se que mais da metade das conversões que ocorreram no país no período estudado foram sobre vegetação florestal e campestre (64,7%)”, diz o estudo.
De 2000 a 2020, a vegetação campestre do país teve redução 10,6% (192,5 mil quilômetros quadrados) enquanto a vegetação florestal diminuiu 7,9% (320,7 mil km²). Somados, esses dois tipos de cobertura perderam 513,1 mil (quilômetros quadrados) km² entre 2000 e 2020, o equivalente a 6% do território do país.
No mesmo período (2000/2020), a área da silvicultura no país cresceu 71,4% (36 mil km²), a área agrícola aumentou 50,1% (229,9 mil km²) e a de pastagem com manejo, 27,9% (247 mil km²).
As mudanças mais intensas ocorreram nas bordas da Amazônia, no Matopiba, no sul do Rio Grande do Sul e na área que vai do oeste paulista ao leste de Mato Grosso do Sul e Goiás. O Matopiba é uma região de grande crescimento no cultivo de grãos, cujo nome é a combinação das siglas dos estados que têm cidades na região: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Segundo o IBGE, a diferença entre os anos de 2000 e de 2020 indica que importantes conversões de uso para atividade agrícola ocorreram na chamada fronteira agrícola do Brasil. Em diferentes regiões do país, mas em especial no bioma Cerrado, novas áreas foram convertidas em cultivo, muitas delas derivadas de pastagens, em geral com algum grau de degradação.
“Essas áreas tiveram seu uso convertido sob influência das condições de clima, solo e relevo favoráveis considerando-se as possibilidades de expansão da atividade agrícola com o uso de máquinas e à existência de uma infraestrutura de escoamento da produção (rodovias, ferrovias, portos, hidrovias). Em alguns casos, o preço da terra também é apontado como fator de atração”, informa a pesquisa.
A gerente de contas ambientais do IBGE, Ivone Batista, disse que, de modo geral, os pesquisadores observaram o percurso de mudanças de vegetação nativa para pastagem com manejo e, algum tempo depois, essa pastagem é convertida para agricultura. Ela destacou, entretanto, que essa dinâmica não é homogênea no território nacional, pois, muitas vezes, a vegetação nativa é derrubada para dar lugar a lavouras diretamente, a exemplo do que ocorre no cerrado.
“A dinâmica econômica é que movimenta as áreas e muda a paisagem, mas a custa de perda de áreas nativas”, disse Ivone.
De acordo com a pesquisa, as áreas agrícolas têm destaque especialmente nos estados de Mato Grosso (18,1%), São Paulo (14,9%), do Rio Grande do Sul (14,3%) e Paraná (10,5%) com os maiores percentuais de terras nessa classe, em relação ao total Brasil.
As lavouras tiveram crescimento também no Maranhão (2,8%), Tocantins (4,4%), Piauí (3,8%) e Bahia (2,7%), que integram o Matopiba, de 2000 a 2020.
O Pará foi a unidade da federação com a maior expansão de pastagem com manejo: 87,8 mil km²; e com maior redução de vegetação natural, 123,2 mil km².
De 2018 a 2020, 70 mil km² do país sofreram alguma mudança de cobertura e uso da terra, correspondendo a 0,7% do território nacional, ou uma área equivalente à de Alagoas e do Rio de Janeiro. O dado consta da publicação Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil (2018-2020) também divulgada nesta sexta-feira.
Neste período (2018/2020), as principais conversões foram de pastagem com manejo para área agrícola (14,9 mil km²), de mosaico de ocupações em área florestal para pastagem com manejo (12,3 mil km²) e de vegetação florestal para mosaico de ocupações em área florestal (11,8 mil km²).