Conversas mostram que o autor do tiroteio que resultou na morte de uma aluna na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo, na última segunda-feira, 23 de outubro, recebeu incentivo e instruções para o ataque por membros de um grupo no Discord, uma plataforma de comunicação amplamente usada por jovens para conversas em texto, voz e vídeo. As informações são do portal Metrópoles.
Nessas mensagens, trocadas pouco antes do tiroteio, o jovem de 16 anos discutiu detalhes sobre seus planos para o que ele chamou de “missão” e explorou a melhor maneira de filmar e transmitir o ataque pelo servidor. Após o incidente, os membros do grupo expressaram pesar pelas vítimas. “Uma morte cara, que merda”, lamentou um dos administradores do grupo.
Essas conversas agora estão nas mãos das autoridades, incluindo a Polícia Civil de São Paulo e o Laboratório de Crimes Cibernéticos do Ministério da Justiça, que estão investigando o papel desempenhado pelos membros do grupo no Discord na instigação do adolescente a realizar o ataque, que resultou em duas outras alunas feridas.
O autor do tiroteio compartilhou fotos da escola antes do evento, procurando orientações sobre como executar o crime. Isso inclui imagens da sala de aula onde ele entrou armado por volta das 7h30min da segunda-feira e das escadas onde atirou na estudante Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, a queima-roupa.
Estes registros revelam que o homicida discutiu seus planos em um grupo no Discord nas primeiras horas da última segunda-feira, 23, apenas algumas horas antes do ataque. Um dos membros do grupo indagou a localização planejada para o atentado e questionou se haveria uma transmissão ao vivo da ação criminosa pela plataforma.
2h50 – Integrante – “[Vai ser] em qual bairro?”
2h50 – Adolescente – “Sapopemba”
2h50 – Integrante – “Brabo. […] Vai fazer em call?”
2h50 – Adolescente – “Sim”
2h51 – Integrante – “Que servidor?”
2h51 – Adolescente – “Naquele lá que agente tá conversando eu já combinei de fazer lá
Já ta marcado”
2h51 – Integrante – “Caralho…Vai ser foda então. Estava há um tempo sem coisas interessantes em panela”
2h52 – Adolescente – “Vai ser um bem melhor que o daquele mlk lá”
2h52 – Integrante – “Qual?”
2h52 – Adolescente – “Da faca, sabe?”
2h52 – Integrante – “Ah, sim Aquela criança mongoloide”
2h55 – Integrante – “Testa em colocar o celular na sua máscara”
2h55 – Adolescente – “Hmm vou ver dps no espelho aqui de casa. […] Mas sla acho q n vai dar bom isso não. Mas vou testar”
2h56 – Integrante – “Ou pega uma fita. E dps de conectar na call”
2h56 – Adolescente – “N quero q a call atrapalhe a minha missão. Mas vou dar um jeito de fazer”
2h57 – Integrante – “Vai ser massa se conseguir”
3h01 – Adolescente – “Eu vou”
3h01 – Integrante – “Vou ficar acordado então”
Já na segunda-feira pela manhã, por volta das 7h30min, o jovem saiu da sala de aula no segundo andar da escola e se dirigiu ao banheiro, onde vestiu uma máscara de caveira. De acordo com as mensagens compartilhadas no grupo, nesse momento, ele ativou a câmera para exibir seu rosto mascarado e a arma que empunhava, porém, em seguida, interrompeu a filmagem. Imediatamente após essa ação, o adolescente disparou um tiro fatal à queima-roupa na cabeça de Giovanna, que, conforme informações policiais, não possuía qualquer ligação próxima com o agressor.
Após o tiroteio, os membros do grupo demonstraram preocupação com a possibilidade de serem rastreados pelas autoridades, discutindo medidas como a formatação de seus celulares, a desativação de suas contas no Discord e até mesmo a desativação de suas localizações.
O Discord, que possui diretrizes contra conteúdo que promove a violência, declarou sua disposição de cooperar com as autoridades locais para garantir um ambiente seguro para seus usuários no Brasil.
Além disso, tanto pais quanto alunos relataram que o autor do tiroteio havia ameaçado “matar todo mundo na escola” na semana anterior ao ataque. Estudantes alegam que ele era alvo de bullying e agressões na escola, com um vídeo mostrando-o sendo agredido em sala de aula em junho compartilhado no grupo do Discord. Em abril, a mãe do adolescente registrou um boletim de ocorrência por lesão corporal e ameaça contra o filho. O secretário estadual da Educação afirmou que a pasta não tinha conhecimento das ameaças feitas pelo agressor antes do ataque. A investigação policial continua para determinar o envolvimento de terceiros no incidente.


