O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja à França entre os dias 4 e 9 de junho, com o objetivo de aprofundar a relação entre os dois países. Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país em 13 anos, e da segunda visita do presidente Lula ao país. A programação inclui encontros com o presidente francês, Emmanuel Macron, além de atividades econômicas, culturais e acadêmicas, e cerimônias oficiais que simbolizam o estreitamento da parceria estratégica entre Brasil e França.
O primeiro compromisso de Lula em Paris será a cerimônia oficial de chegada ao Pátio de Honra (ou Cour d’Honneur) da Esplanada dos Inválidos, na área norte do edifício Hotel des Invalides. O local sedia cerimônias militares francesas e é frequentemente utilizado para desfiles e outros eventos. Em seguida, o presidente brasileiro se reúne com Macron no Palácio do Eliseu, sede do governo francês, em uma reunião entre as delegações dos dois países e que será seguida por uma cerimônia de assinatura de atos, além de declarações à imprensa.
“A visita acontece num momento muito positivo do relacionamento bilateral, com aproximação em diversas áreas. Durante sua passagem pela França, Lula terá vários encontros com Emmanuel Macron. Discutirá o relacionamento bilateral e temas da agenda internacional, como a necessidade de reforma da governança global, a defesa do multilateralismo, o combate ao extremismo e a preparação para a COP 30”, disse o embaixador Flávio Goldman, diretor do Departamento de Europa do Ministério das Relações Exteriores, em conversa com a imprensa na manhã desta sexta-feira, 30 de maio.
HONORIS CAUSA — O presidente Lula também receberá o título de doutor honoris causa na Universidade de Paris 8, conhecida também pelo nome de Paris 8 de Vincennes Saint-Denis. Ela foi fundada em 1969 como resposta às transformações sociais e educacionais impulsionadas pelos protestos de Maio de 1968 na França. “Localizada na região periférica de Paris, foi criada com o propósito de democratizar o ensino superior, sempre tendo forte vínculo com a classe trabalhadora, com públicos marginalizados, estudantes, cientistas e imigrantes. Portanto, uma instituição comprometida com políticas sociais”, disse Goldman.
CULTURA — Ainda na agenda bilateral, está previsto que os dois presidentes visitem um dos marcos da programação do Ano do Brasil na França para a Expo França 2025, no Grand Palais, um dos principais espaços de exposições do país. No local, está em exibição ao público a instalação Nosso Barco Tambor Terra, do artista brasileiro Ernesto Neto, além da mostra Horizontes, que reúne trabalhos de jovens artistas brasileiros contemporâneos.
A iniciativa do Ano Cultural Brasil-França 2025 foi acordada entre os dois presidentes em 2023, retomando as experiências bem-sucedidas do Ano do Brasil na França (2005) e do Ano da França no Brasil (2009). A programação da temporada brasileira na França compreenderá diversas atividades até setembro, em mais de 50 cidades francesas. Elas incluirão iniciativas tanto na área artística quanto nas de cooperação acadêmica, científica, tecnológica, educativa e ambiental, com o objetivo de longo prazo de fortalecer os laços entre os países.
HOMENAGEM — Ainda no âmbito cultural, o presidente Lula receberá uma homenagem na Academia Francesa. A Academia foi criada em 1635, e, em seus quase 400 anos de história, apenas outros 19 chefes de Estados foram homenageados em sessão oficial. Antes dele, apenas um brasileiro teve a honraria: Dom Pedro II, em 1872.
FÓRUM ECONÔMICO — Está prevista, também, a participação de Lula na sessão do Fórum Econômico Brasil-França. O encontro reunirá autoridades e líderes empresariais de ambos os países para discutir temas como transição energética, inovação, infraestrutura e oportunidades de negócios e investimentos. “Trata-se do principal fórum bilateral para aprofundar a cooperação econômica e comercial e é realizado, desde 2013, alternadamente nos dois países”, ressaltou o diretor do departamento de Europa do MRE.
BASE NAVAL — No dia 7 de junho, Lula e Macron seguem para Toulon, no sul da França, onde visitam a base naval da Marinha Francesa, reforçando a parceria estratégica e a cooperação em temas de defesa e segurança.
OCEANOS — No dia 8, Lula foi convidado a participar, em Mônaco, de evento sobre a economia azul, com enfoque na questão da utilização econômica e mobilização de financiamento para a conservação dos oceanos. No dia seguinte, o presidente vai a Nice, para participar da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos. A conferência busca promover o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 14, da Agenda 2030, que é dedicada à conservação e uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos.
“A França está esperando cerca de 60 chefes de Estado para a conferência. Ela se torna já uma dessas grandes conferências de mobilização, com sociedade civil, com muitas atividades paralelas ao mesmo tempo”, explicou o embaixador Carlos Cozendey, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Itamaraty.
Segundo explicou Cozendey, além do fórum central, há uma série de painéis temáticos e eventos paralelos sobre diferentes aspectos relacionados à preservação e à utilização dos oceanos. “O presidente Lula foi convidado a participar da primeira sessão da conferência, e para copresidir o primeiro painel junto com o primeiro-ministro da Grécia, Kyriákos Mitsotákis”, detalhou. “O Brasil está promovendo alguns desses eventos: um sobre oceanos e mudança do clima, Making Waves from Paris to Belém, fazendo conexão entre a conferência dos oceanos e a COP em Belém, e um painel sobre cultura oceânica, com a Unesco, que dá relevo ao compromisso brasileiro de incluir cultura oceânica nos currículos da educação básica”.
É um programa conjunto do Ministério da Educação com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que inclui treinamento de professores e preparação de material, para transmitir às crianças a importância dos oceanos e o papel que eles têm nas nossas vidas. “O terceiro evento que eu gostaria de chamar a atenção é sobre segurança alimentar e sistemas alimentares aquáticos, que enfoca a utilização e a importância dos oceanos como fonte de alimentos sustentáveis e climaticamente saudáveis”, afirmou o embaixador.
PARCERIA — Brasil e França firmaram os termos da Parceria Estratégica Brasil-França em 2006, com ampla agenda de intercâmbio e cooperação. O Plano de Ação da Parceria Estratégica franco-brasileiro, de 2008, apresentava os eixos estruturantes da relação. Em 2024, durante visita ao Brasil do presidente Emmanuel Macron, foi assinado o Novo Plano de Ação da Parceria Estratégica, renovando as bases das relações bilaterais. O documento é dividido em 24 capítulos, que versam sobre temas como a cooperação em defesa; transfronteiriça; em ciência, tecnologia e inovação; e meio ambiente, entre outros.
A Parceria vai além dos setores estratégicos e de defesa, mas teve, nessas áreas, a expressão da determinação dos dois países de construir associação de natureza especial. O interesse recíproco deve-se a uma série de fatores, entre os quais se destacam: i) fronteira compartilhada (Guiana Francesa/Amapá – a maior fronteira terrestre da França, que supera 700 km de extensão); ii) desenvolvimento conjunto de projetos em áreas sensíveis e de alta tecnologia; iii) presença de empresas e investimentos franceses na economia brasileira; iv) expressiva comunidade brasileira na França; v) forte intercâmbio educacional; e vi) influência cultural.
Essa parceria com a França constitui a expressão mais firme da determinação dos dois países de construir associação de natureza especial mutuamente proveitosa. Os dois grandes programas de construção de submarinos e helicópteros tornaram-se emblemáticos. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), orçado inicialmente em € 6,7 bilhões e hoje em torno de € 8,6 bilhões, é o maior projeto de cooperação internacional na área de defesa desenvolvido pelo Brasil. O objetivo da iniciativa é dotar o Brasil da capacidade de projetar e de construir, de forma autônoma, submarinos de propulsão nuclear.
A França apoia ainda a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e o pleito brasileiro por um assento permanente no órgão. O país é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e ocupa a sétima posição entre as maiores economias do mundo. Trata-se de importante parceiro do Brasil em questões de paz e segurança, desarmamento e não-proliferação.
“A França é um importante parceiro de operação na área econômica. A nossa corrente comercial atingiu US$ 9,1 bilhões em 2024, alta de 8% em relação ao ano anterior. Também é um importante investidor no Brasil, terceira origem de investimentos diretos no país, com US$ 66,3 bilhões em estoque, volume que vem registrando crescimento nos últimos anos”, explicou Goldman.
POSSÍVEIS ACORDOS — Estão previstas, ainda, assinaturas de importantes atos internacionais, sobretudo nas áreas de energia, saúde, educação, ciência e tecnologia e segurança. São esperados anúncios relevantes na área de investimentos. “Nesse momento, há cerca de 20 entregas sendo negociadas, entre declarações, acordos, memorandos de entendimento e anúncios comuns”, disse o diretor do Departamento de Europa do MRE.
Na área de clima e energia, há expectativa de adoção de uma nova declaração dos dois líderes sobre a mudança do clima, considerando o engajamento dentro dos países nesse tema e a necessidade de maior mobilização internacional para a COP30, sediada pelo Brasil. “Também esperamos acordar a criação de um corredor marítimo descarbonizado com a França”, pontuou Flávio Goldman.
Na área de educação, devem ser anunciadas novas iniciativas de cooperação entre instituições universitárias francesas e brasileiras. Na área de saúde, que já é uma área consolidada de cooperação entre os dois países, é esperado o anúncio de novas ações de cooperação entre a Fiocruz e o Instituto Pasteur, que envolveria a produção de vacinas.
A área de segurança pública é de alta prioridade para ambos os governos e haverá anúncios de fortalecimento da cooperação entre as instituições brasileiras e francesas.
No âmbito de ciência, tecnologia e inovação, espera-se o lançamento de um diálogo digital que vai permitir o fortalecimento da cooperação em áreas essenciais como inteligência artificial, computação de alto desempenho e semicondutores.