Internado na UTI do Hospital das Clínicas de São Paulo desde o dia 04 de julho, após queimaduras graves no corpo, Zé Celso Martinez, de 86 anos, morreu nesta quinta-feira (06/07) em São Paulo, de acordo com o jornal O Globo.
Após não reagir bem aos tratamentos para controlar os danos causados pelo incêndio que atingiu o edifício em que mora, o dramaturgo teve início de insuficiência renal e não resistiu às complicações do quadro.
Nascido em 1937 em Araraquara, São Paulo, Zé Celso mostrou interesse pelo universo artístico desde a infância, mas acabou se formando em Direito em vez de seguir logo no mundo das artes por pressão dos pais. No ambiente universitário, no entanto, começou a estudar os conhecidos métodos de atuação de Constantin Stanislavski, ator e pedagogo russo.
O dramaturgo firmou sua carreira no teatro a partir dos anos 60, quando liderou o Teatro Oficina, em São Paulo. A partir daí, se consolidou no meio e se tornou um dos maiores nomes da dramaturgia do país, além de também ganhar destaque como ator e encenador.
O incêndio que, hoje, acabou causando sua morte, não foi o primeiro em sua trajetória. Em 1966, ele também enfrentou um grave incêndio que destruiu o Teatro Oficina – que, hoje, recebe o nome de Teatro Oficina Uzyna Uzona. Na época, há quase 60 anos, o local sofreu um curto-circuito e o fogo se espalhou pelo forro de lâminas de fibra, deixando o lugar consumido em chamas. Felizmente, não havia quase ninguém por lá no momento, mas o fogo não conseguiu ser controlado e não sobrou nada do prédio. Em solidariedade, diversos artistas foram para frente do local no dia seguinte e fizeram dois espetáculos para arrecadar dinheiro para a reconstrução. Deu certo, e a reinauguração foi realizada em setembro de 1967 com a peça “O Rei da Vela”, dirigida por Zé Celso.
Mas não foi apenas esse episódio que marcou a história do Teatro Oficina. Criado por Zé Celso, Amir Haddad, Renato Borghi, Etty Fraser, Fauzi Arap e Ronaldo Daniel, chamou atenção nas décadas de 1960 e 1970 pelo estilo arrojado que o grupo teatral exibia em plena ditatura militar. Interagindo com o público, eles lutavam contra os tabus e contestavam as normas sociais da época.
Nos dias atuais, Zé Celso era considerado referência de artistas de diversas gerações, como Julia Lemmertz, Reynaldo Giannechini, Alanis Guillen e outros. Entre seus trabalhos mais recentes, está a peça “Fausto na travessia brasileira”, que é uma versão reinventada da obra do dramaturgo britânico Christopher Marlowe, e o livro “A origem da tragicomédiaorgya no corpo da música: di-ti-sambo”, que estava escrevendo em colaboração com Beto Eiras.