Após receber críticas por se manifestar contra a decisão judicial que vetou um vídeo com piadas do comediante Léo Lins, o humorista Fábio Porchat recuou de seu posicionamento anterior sobre o caso e, em uma publicação feita no Instagram na noite desta sexta-feira (26/05), disse que falhou em “não tomar cuidado com as palavras”. Em um vídeo, Porchat pediu desculpas pela manifestação anterior.
– Eu li muita coisa, recebi muitas mensagens, conversei com muita gente legal. E eu entendi muito bem as reações. Minha posição nunca foi defender um humor racista. Eu sempre tentei defender um humor que não causasse dor, que não machucasse – declarou.
Em outro trecho da gravação, o humorista disse que precisava avaliar melhor o caso e que sua posição anterior abria margem para “validar” algumas questões com as quais ele não concordava.
– Falei de forma rasa e confusa, então eu errei. Do jeito que ele [o posicionamento] tava, era solto, irresponsável, abria margem para validar algumas coisas que eu não concordo – completou.
SOBRE A FALA ANTERIOR DE PORCHAT
Porchat foi alvo de críticas após usar as redes sociais para se manifestar contra a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que mandou o humorista Léo Lins remover do YouTube, no último dia 16 de maio, um especial de comédia intitulado Perturbador.
– Dentro da lei pode-se fazer piada com tudo, tudo, tudo. Não gostar de uma piada não te dá o direito de impedir ela de existir. Ainda mais previamente. Impedir o comediante de pensar uma piada é loucura. Mesmo que você não goste desse comediante, mesmo que você despreze tudo o que ele diz, ele tem o direito de dizer. Ele tem o direito de ofender. Não existe censura do bem. Se cada pessoa que se ofender com uma piada resolver tirar ela do ar não sobra um Joãozinho, um papagaio, um argentino. Pra mim, democracia não é um regime pra você defender as suas ideias, mas pra quem você não concorda poder defender as delas – argumentou Porchat, no Twitter.
Vários usuários da plataforma apontaram Porchat como alguém que teria contribuído com a censura de piadas.
– Você diretamente agiu e incentivou isso aí. Agora segura a onda – disse um.
– É brincadeira ter que ler isso vindo da turma do cancelamento – observou outro.
– Faz o L – escreveu mais uma pessoa.
O CASO LÉO LINS
Publicado no final de 2022, o vídeo de Lins contava com mais de 3 milhões de visualizações e tinha piadas com escravidão, perseguição religiosa, pessoas portadoras de deficiência, idosos e minorias.
A decisão contra Lins foi assinada pela juíza Gina Fonseca Correa, e atendeu a um pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que afirmou que o humorista reproduziu falas que hoje são repudiadas.
Além de ter que apagar todos os conteúdos que façam menções aos grupos mencionados, o comediante está proibido de citá-los em futuras apresentações. Léo Lins poderia pagar uma multa diária de até R$ 10 mil caso deixasse de remover os conteúdos.
Ainda, Lins deverá comparecer mensalmente em juízo a fim de comunicar e explicar suas atividades. O humorista também está proibido de sair da cidade de São Paulo por mais de dez dias sem autorização judicial.
O advogado de Lins, Rodrigo Barrouin, classificou a resolução como “censura prévia”, garantiu que irá recorrer da decisão e afirmou que a medida não é prevista na Constituição.
– Entendemos que isso configuraria censura prévia, o que é proibido pela Constituição – afirmou.