Equipes de brigadistas, biólogos, bombeiros civis e veterinários estão mobilizadas para resgatar animais em áreas de incêndios nas Unidades de Conservação (UCs) de Minas Gerais. Trata-se de um projeto piloto, comandado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), criado a partir dos incêndios florestais de 2021.
Também faz parte do projeto a ONG Grupo de Resgate de Animais (GRA), do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), que é especializado em resgate técnico animal e medicina veterinária de desastres. O GRA tem experiência em atuação no resgate de animais em mais de 15 locais, como em enchentes na Bahia e em Santa Catarina, rompimento da barragem em Brumadinho e incêndios no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
Além de animais vítimas de queimaduras, também são resgatados os bichos que machucam as patas durante a fuga ou que são atropelados ao escaparem das chamas. Muitos acabam buscando refúgio em áreas urbanas.
“É um projeto inicial que estamos desenvolvendo para podermos ter um plano de resgate. Tivemos uma demanda muito grande de resgate de fauna no ano passado, aí esse grupo nos deu um apoio e este ano decidimos conversar antes do início do período de incêndios”, explica Janaína Aguiar, analista ambiental do IEF.
Força-Tarefa Previncêndio
As 94 Unidades de Conservação acionam a Sala de Situação da Força-Tarefa Previncêndio, como já é feito no procedimento padrão para o combate aos incêndios florestais, e nesse chamado acrescenta a informação sobre a necessidade de apoio para resgate de fauna. A Sala de Situação entra em contato com entidades como o GRA, comandada pelo médico veterinário Aldair Pinto.
A ideia é que eles já estejam a postos para fazer o trabalho assim que a ocorrência de incêndio for registrada. “O desafio é alinhar, fazer o deslocamento, associar urgência e emergência com a distância. Esse tempo é precioso e a agilidade é importante para otimizar as chances do resgate”, explica Aldair Pinto, que também é diretor do Complexo Público Veterinário de BH. Ele revela que já recebeu chamados este ano para resgatar animais como um lobo-guará e uma siriema, que fraturou as patas ao ser atropelada fugindo de seu habitat. “Nosso convênio é para que esses procedimentos fiquem mais redondos, e possamos garantir dignidade a qualquer tipo de animal”, conclui.
Em alguns casos, o deslocamento das equipes pode chegar a até 500 quilômetros de distância, já que a equipe sai de Belo Horizonte para às UCs do estado. Em função disso, algumas vezes o resgate é feito por transporte aéreo.
Reabilitação da fauna
Os animais silvestres recolhidos com vida, vítimas de queimaduras, feridos ou intoxicados pela fumaça podem ser encaminhados para atendimento emergencial em clínicas ou hospitais veterinários mais próximos. Nos casos não emergenciais, são entregues diretamente nos Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestre (Cetras), do IEF ou do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), localizados em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Montes Claros, Patos de Minas e Divinópolis.
Socorros
“Os veterinários prestam os primeiros socorros, o que depois no centro de triagem faz toda diferença porque é importante tentar reabilitar esses animais para retornarem à natureza, voltando à UC recuperados e íntegros para continuarem seu ciclo”, esclarece Janaína Aguiar.
Os animais recuperados são encaminhados para reintrodução no ambiente natural, em área de ocorrência da espécie. Já os que não conseguem se recuperar são destinados para zoológicos, mantenedores e criadouros conservacionistas autorizados pelo IEF.
Biomas brasileiros
Minas Gerais compreende três biomas brasileiros – Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica – e concentra uma das maiores diversidades biológicas do país, com mais de 243 espécies de mamíferos, 785 espécies de aves, 480 espécies de anfíbios e 197 de répteis. O estado também possui áreas para pouso, descanso, alimentação e reprodução de aves migratórias.
Animais como répteis e anfíbios são os que mais sofrem, diante da dificuldade de fugir das chamas. Pequenos mamíferos, fêmeas no período reprodutivo e filhotes também são as maiores preocupações das equipes de resgate, principalmente nos meses de setembro e outubro, quando há maior reprodução de grande parte das espécies, devido à disponibilidade de alimentos.
Mata do Limoeiro
Em setembro, um dos focos de atuação da equipe de resgate animal foi o Parque Estadual Mata do Limoeiro, em Itabira, a pouco mais de 100 quilômetros de BH. Segundo o gerente do parque, Alex Amaral, a unidade reúne espécies como o macaco-bugio, o gambá de orelha branca, a jaguatirica e diversas espécies de insetos e aves, como um filhote de gavião que, ao que tudo indica, estava em um ninho que caiu com a árvore em chamas. As asas estavam queimadas e as patas também. Mas foi o caso de outra espécie, um mamífero, que mais marcou Amaral.
“Ver a imagem do tatu com seus filhotes queimados foi muito forte. É uma situação triste e muito impactante. Esse incêndio veio com uma força impressionante e destruiu tudo que encontrou pela frente. Fico imaginando as vidas queimadas que não encontramos ou os animais feridos que permaneceram na mata, muitos deles agonizando”, lamenta o gerente da unidade.
Ele tem esperança que mais animais possam ser resgatados com vida a partir da difusão do resgate do projeto. “A maior conquista para nós é a criação da diretoria de fauna do IEF, que tem atuado e participado conosco. Esse convênio com ONGs especializadas em resgate é fundamental, eles saberão de forma imediata os melhores caminhos. Temos recebido orientação e trabalhado da melhor forma para que o prejuízo à fauna seja mínimo, e também acompanhado a recuperação desses animais no centro de triagem”, afirma.