A ordem expedida ao Ministério da Defesa para comemorar o golpe militar de 1964 exemplifica bem essa peregrinação para o atraso. A sociedade brasileira, em toda sua diversidade.
Além de disputar a interpretação histórica sobre os anos de chumbo, é fundamental lutar contra o espólio deixado pelos militares que, até hoje, faz sangrar o povo brasileiro. Para pobres, negros e periféricos, a chegada da Constituição de 1988 não interrompeu o cerceamento da liberdade, a censura, a tortura e as execuções promovidos arbitrária e cotidianamente por agentes do Estado.

Apesar de ajustes aqui e ali, a linha mestra das políticas de segurança no Brasil se manteve intacta de lá pra cá. Resultado: intensificou-se o cerco aos territórios habitados pelos pobres. Com o respaldo da guerra às drogas, cresceu exponencialmente a população carcerária, dispararam as estatísticas de homicídios e ninguém é capaz de defender que vivemos em cidades menos violentas.

Com olhar histórico e crítico, relembrar o golpe de 1964 não é uma má ideia. Desde que isso sirva para combatermos as barbaridades gestadas à época e que se perpetuam até hoje. A tarefa é árdua e mesmo governos críticos à ditadura não quiseram ou não tiveram força para enfrentá-la como um todo.
Diante de um governo que exalta torturadores e delira em meio aos seus próprios fantasmas, cabe a todos os democratas redobrar a luta e recolocar os problemas reais dos brasileiros na ordem do dia.